A luta pela preservação da Amazônia, em especial pela manutenção das
atividades extrativistas, sofria um duro golpe há 25 anos. Em 22 de dezembro de
1988 foi assassinado, no interior do Acre, Francisco Alves Mendes Filho, o
Chico Mendes. Artigo tirado do Portal Vermelho.
AGÊNCIA BRASIL sermosgaliza.com
A morte do líder sindicalista repercutiu mundialmente e provocou mudanças
na forma como o Brasil passou a lidar com as questões relacionadas ao meio
ambiente.
De vida simples, Chico Mendes era enfático na defesa dos seus princípios.
Ele conquistou o apoio dos companheiros seringueiros, de políticos, de artistas
e de ativistas das causas ambientais em todo o mundo. “O Chico era uma pessoa
que sabia respeitar todo mundo, sabia se relacionar com todo mundo e sabia
construir a amizade e a confiança das pessoas”, descreveu à Agência Brasil
Raimundo Mendes Barros, primo de Chico.
“Ele era uma pessoa simples, sem
ambição, e que tinha como único objetivo defender os interesses daqueles menos
favorecidos tanto em termos de informação como em termos econômicos”,
acrescentou a vice-presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri,
Dercy Teles. Primeira mulher a presidir uma entidade sindical trabalhista no
Brasil, Dercy esteve ao lado de Chico Mendes na criação da entidade em Xapuri.
Atraídos pelo ouro branco, milhares de nordestinos começaram a migrar para
a Floresta Amazônica no final do século 19. Em meio a mais de 5 milhões de
metros quadrados de floresta, começava uma história de disputas econômicas, conflitos
por terra e luta pela preservação da selva. Foi nesse cenário que Chico Mendes
se tornou símbolo da luta pela manutenção da floresta e da cultura do seu povo.
Com o fim do apogeu da borracha, depois da 2ª Guerra Mundial, em 1945, de
explorados pelos donos das terras, os seringueiros passaram a ter que lutar
pela permanência na floresta. Com o início da queda no preço da borracha, os
fazendeiros passaram a vender as propriedades.
Na década de 1970, os governos militares iniciam a política de ocupação da
Amazônia. Com isso, passam a estimular produtores rurais do Sul do país a
ocupar os estados do Norte, inclusive o Acre. O resultado foi um novo ciclo de
derrubada das matas para a exploração de madeira, plantio de soja e criação
extensiva de gado, com estímulos financeiros do governo brasileiro e de bancos
internacionais de fomento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID).
“Eles [os proprietários de terra] venderam os seringais [depois da queda do
preço da borracha] mas não disseram para os fazendeiros do Sul que tinha gente
no seringal. Venderam como se não morasse ninguém, mas em cada seringal
daqueles tinha 100 pessoas, 50 famílias. Esse pessoal ia para onde? Eram
casados, tinham filhos. Os fazendeiros quando compraram não queriam ninguém,
eles queriam despejar todo mundo e daí que foi criado o sindicato e o movimento
para empatar e eles não tirarem o pessoal”, lembrou o ex-seringueiro Luiz
Targino, companheiro de Chico Mendes na exploração do látex.
Os empates, idealizados pelo seringueiro Wilson Pinheiro, que presidiu o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, consistiam em os trabalhadores
rurais bloquearem a derrubada da mata se colocando a frente dos peões
contratados pelos fazendeiros. Algumas vezes, para sensibilizar os peões com
suas motosserras, mulheres e crianças eram colocadas na linha de frente. Com o
assassinato de Wilson Pinheiro, em julho de 1980, a estratégia ganha ainda mais
força com Chico Mendes. “Os empates foram fruto da sabedoria do Chico e desse
espírito de não querer o confronto, de não querer o derramamento de sangue”.
Antropóloga e amiga do líder extrativista, Marly Alegretti recorda os
conflitos da época. “Fiquei muito impressionada com a movimentação que estava
acontecendo naquela ocasião. Havia muitos desmatamentos e os seringueiros
estavam se organizando. Ninguém sabia, naquele momento, que lá no Acre, em
Xapuri, que os seringueiros, que eram pessoas muito pobres e muito isoladas,
praticamente sem poder nenhum, sem visibilidade, estavam fazendo uma defesa da
floresta. E aquilo me impressionou bastante”, disse.
A postura dos seringueiros, no entanto, contrariava os interesses de
grandes fazendeiros e as ameaças e os assassinatos de líderes sindicalistas
começam a se tornar frequentes. Depois da morte de Wilson Pinheiro, outras
lideranças também foram assassinadas, como Ivair Higino, dirigente sindical em
Xapuri, morto em 1988.
Em 1975, Chico Mendes assume a secretaria-geral do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Brasileia. No ano seguinte, intensifica os empates. De
volta a Xapuri, ajuda a fundar, em 1977, o sindicato dos trabalhadores rurais
da cidade onde foi eleito vereador. Na época, começa a receber ameaça de morte,
assim como outros sindicalistas.
As lutas do seringueiro ultrapassam as fronteiras do Brasil. Ele é
reconhecido como uma liderança mundial da luta pelas causas ambientalistas e
recebe vários prêmios internacionais. Com a cabeça a prêmio, em 1988, Chico
Mendes pede proteção policial e passa a ser escoltado por soldados da Polícia
Militar. Contudo, sete dias após completar 44 anos, é assassinado na própria
casa, com o tiro de espingarda no peito, em casa. Os policiais que faziam a
segurança dele fugiram.
Chico, que casou duas vezes, deixou três filhos: Ângela (do primeiro
casamento), Sandino e Elenira. Dois anos depois do crime, os fazendeiros Darly
e Darci Alves foram condenados a 19 anos de prisão como mandante e executor do
assassinato.
Principal testemunha do caso, o menino Genésio Ferreira
da Silva, então com 13 anos, disse que ouviu pai e filho planejando o crime.
Para tentar inocentar o pai, Darci confessou o crime. Os dois, que chegaram a
fugir da cadeia e depois foram recapturados, cumpriram pena e estão em
liberdade. Darly continua morando em Xapuri.
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