domingo, 9 de maio de 2010

Pegadas de umha terra terminavel

"Palestina e um mar de dignidade colectiva contra brutal avanço do deserto. Tomar partido aqui significa retomar velhas palavras, mas sobre todo, emprender a practica da solidariedade"

FUGA EM REDE

Manifestación en Bi’lin o pasado 30 de abril contra o muro da vergonha FOTO: AXENCIAS
Manifestación en Bi’lin o pasado 30 de abril contra o muro da vergonha
FOTO: AXENCIAS

Três dias nos territórios ocupados de Cisjordánia som suficientes para decatar-se do significado que "Lager" (campo de concentraçom em alemám) pode ter na sociedade do risco contemporánea. A anulaçom do regime de cidadania de umha populaçom inteira pola via da emergência, e a fragmentaçom em arquipélagos dos territórios e afectos que constituem o centro de qualquer comunidade humana, som rasgos centrais da politica étnica israelita.

Na periferia atopamos os três eixos transversais de umha dinámica colonial profundamente ambivalente, sofisticada e rudimentária de umha vez, a saber: impedir de forma física e burocrática qualquer apêndice de livre mobilidade da populaçom árabe do "West Bank" (Cisjordánia); controlar, tutelar e apoderar-se da capacidade de produçom material da mesma e, finalmente, substraer de forma continuada os seus recursos e bens comuns.

Mas apenas três dias som também suficientes para percatar-se do exponencial exercício de dignidade que, colectivamente, atravessam diariamente milhares de pessoas nas terras da Palestina Histórica.

Sexta-feira 30 de abril, 09.00 da manhá. Após horas de viagem, controis, fronteiras e interrogatórios, atopamo-nos de novo na terra "Filastin". A paradoxal alegria que produz atravessar o Chekpoint de Qalandya para entrar no maior campo de concentraçom do planeta fala as claras do mundo de contrastes que habita nestes quase 5.600 km2 de terra (di)seccionada.

Qalandya Checkpoint e a principal barreira que impede o transito de milhares de palestinianas desde Cisjordánia (West bank) cara a Al Quds (Jerusalém), a sua histórica capital. Finalmente, de manhá, somos milhares de civis que estamos a sortear as barreiras entre dezenas de militares volutuosamente armados. Atravessando intuitivamente um checkpoint que funciona como vértice de confluência do muro ilegal e que fracciona -étnica e religiosamente- as vidas de quase 3 milhons de pessoas. Sexta-feira, 30 de abril, chegamos a Bi"lin (http://www.bilin-village.org) para participar da manifestaçom semanal contra o muro da vergonha. Um muro de segregaçom que, acorde com a estratégia colonial de ocupaçom, e empregado polo estado de Israel como ferramenta expiatoria para roubar sistematicamente as melhores terras e recursos das pequenas vilas palestinianas. Frente a esta nova forma de violência e humilhacom a resposta das gentes de Bi"lin e clara: desobediência civil. Desde há pouco mais de 5 anos, cada sexta, umha plural mobilizaçom nom violenta percorre a vila até as posiçons do muro, até os acampamentos das tropas israelitas.

Cada semana novas mobilizacons singulares: convocadas por comités populares autonomos som expressons públicas novidossas nas que povoadores, internacionais e activistas israelitas contra a ocupaçom caminhamos a um tempo em Bi"lim ou nas diversas demostraçons que nascerom tras o exemplo da vila fronteirça. Ni"lin, Yayus o Budrus som, desde há meses vilas onde se reproduz este exemplo molesto, o da cooperaçom civil contra o muro, contestado punitivamente pola maquinaria de guerra do Tzahal (http://miblog-shomer.blogspot.com/) que, com novos ordenamentos, declara cada sexta "zona militar fechada" (umha sorte de toque de queda posdemocratico) as vilas desobedientes.

Na tarde, asistimos à ilusionante mobilizaçom de Sheikh Jarrah (http://www.en.justjlm.org/) na que centenares de pessoas participam de umha iniciativa novidossa, vital. Sheikh Jarrah, bairro arabe de Jerusalem Leste, sofre desde ha meses a ocupaçom de vivendas por parte de colonos judeus inspirados num extremismo mais humano que divino, amparados na cumplicidade da polícia israelita Ante isto, num gesto convertido em desafecto, milhares de israelitas mostram cada sexta umha repulsa -ao fim activa- como parte demasiado cativa de umha sociedade, a israelita, paralisada e inmóvel ante a constante violaçom de direitos que deriva do seu hegemonico monopólio da violência.

O exemplo das coordenacons autónomas contra o muro (http://almubadara.org/) dos comités juvenis de saúde (http://www.hwc-pal.org/), ou das multiplas cooperativas de mulheres (http://palestineembroidery.wordpress.com/) acompanham-nos na calida manhá dum domingo entre Nil"in (http://www.nilin-palestine.org/en) e Ramallah.

Finalmente Palestina, nom se traduz só (como diria John Berger) num som mais forte que um ouveo, mais apremiante que o lamento. Palestina e, singularmente, um mar de dignidade colectiva contra brutal avanço do deserto. Ante as injustiças sistémicas, hoje em dia cumpre estar do lado dos e das que tomam parte. Tomar partido aqui significa retomar velhas palavras, mas sobre todo, agora emprender fermosas practicas: parte e fim, solidariedade.

Aquí, na falda das colinas, ante o

[ocaso

e as fauces do tempo,

junto as hortas de sombras

[arrancadas,

fazemos o que fam @s prisioneir@s,

o que fam @s sem trabalho:

alimentamos a esperança.

De Estado de Sitio,

Mahmud Darwish.

Ningún comentario:

Publicar un comentario